O Programa Madrinhas do Desenvolvimento Infantil é fundamentado no Programa Internacional de Desenvolvimento Infantil conhecido pela sigla ICDP, que é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF). Tem como proposta principal favorecer uma interação de boa qualidade entre os cuidadores de crianças de 0 (zero) a 06 (seis) anos. Busca melhorar a consciência do cuidador em relação às necessidades psicológicas e sociais da criança, em uma relação mais sensível, afetuosa e presente. As madrinhas devem ajudar os cuidadores a descobrir a melhor forma de ajudar às crianças, vendo nas ações cotidianas como comer, tomar banho, brincar e passear, grandes oportunidades de demonstrar afeto, estabelecer limites e ensinar sobre o mundo.
Este é um programa da Secretaria da Assistência Social do município de Iguatu, que iniciou suas atividades em outubro de 2009, onde uma equipe interdisciplinar, fundamentada nas bases teóricas e metodológicas do ICDP, estruturou um processo de autoformação sob a coordenação da Escola de Saúde Pública de Iguatu (ESPI). A equipe selecionou os bairros Vila Neuma e Vila Moura como área piloto para iniciar o desenvolvimento do Programa, em decorrência da fragilidade de seus indicadores sócio-econômicos e alto índice de violência.
No dia 12 de abril de 2010 a equipe técnica realizou um processo seletivo que definiu 12 mulheres da comunidade que assumiriam a função de madrinhas do desenvolvimento Infantil da Vila Neuma e Vila Moura, cada uma sendo responsável por uma micro-área de acordo com a distribuição territorial dos Agentes Comunitários de Saúde. O processo seletivo privilegiou a experiência das mulheres como cuidadoras de crianças de 0 a 6 anos, capacidade de trabalhar em grupo, capacidade de expressão verbal e residência fixa há mais de um ano na área de abrangência do programa. A oficialização do Programa Madrinhas do Desenvolvimento Infantil no município, aconteceu no dia 16 de abril de 2010, em grande cerimônia na própria comunidade, onde foi assinada pelo prefeito municipal e Secretária de Ação Social, a contratação das 12 mulheres selecionadas para a função de Madrinhas.
Desde então estas 12 Madrinhas estão acompanhando as famílias e vivenciando o programa ICDP através de uma metodologia teórico-vivencial em que possamos reconhecer nossos conceitos em relação ao cuidado de crianças, desenvolver empatia, resgatar e valorizar as vivências positivas da comunidade no cuidado com as crianças e resgatar as próprias vivências da infância. Desta forma buscamos construir um grupo em que as Madrinhas facilitem a vivência de outros cuidadores, usando sua sensibilidade e experiências como referência, criando uma relação de confiança com cada família, respeitando seus limites e fortalecendo suas potencialidades. Podemos descrever como objetivos das madrinhas:
1. Influir positivamente na experiência dos cuidadores de crianças de 0 a 6 anos para que possam prestar atenção à sua criança, identificando-se com seus sentimentos e necessidades. Ao se sensibilizar, os cuidadores poderão se ajustar às necessidades e iniciativas da criança. Deve ser valorizado cada cuidador em suas qualidades positivas, fortalecendo sua auto-confiança.
2. Promover uma comunicação sensível e emocionalmente expressiva entre o cuidador e a criança.
3. Promover interações enriquecedoras e estimulantes entre o cuidador e a criança para aumentar o interesse e conhecimento da criança sobre o mundo.
4. Reativar práticas de cada família e da comunidade no cuidado com as crianças, incluindo jogos, teatro, músicas e atividades cooperativas.
Para facilitar a interação do cuidador e sua criança, utilizamos oito guias, que reforçam a comunicação, com expressão das emoções e atitudes de carinho. As quatro primeiras guias têm como objetivo sensibilizar, criar confiança e segurança na capacidade de cada cuidador em acompanhar sua criança. Estas guias são chamadas de diálogo emocional, sendo representadas pelo pólo positivo do quadro abaixo:
PÓLO POSITIVO | PÓLO NEGATIVO |
1. Expressar seu amor e sentimentos positivos. |
Manifestar sentimentos negativos, rejeitar a criança. |
2. Seguir e responder as iniciativas da criança. |
Impor suas próprias intenções e desejos na atividade da criança. A criança não é estimulada a se expressar, dizer o que deseja e participar de atividades. |
3. Estabelecer um diálogo pessoal positivo, verbal e não verbal. |
Não se comunicar, ignorar a criança. |
4. Elogiar e aprovar a criança. |
Desqualificar, só mostrar os defeitos da criança. |
Á medida que a criança cresce, o cuidador é estimulado a desenvolver também outras atitudes de acompanhamento, apoiando as iniciativas da criança para conhecimento do mundo, participando de suas descobertas, explicando e planejando junto com ele o que vão fazer. São chamadas guias de mediação e enriquecimento:
PÓLO POSITIVO | PÓLO NEGATIVO |
5-Ajudar a criança a prestar atenção nas coisas e nas situações do ambiente. |
Distrair e confundir a criança. |
6- Dar significado com entusiasmo às experiências da criança. |
Ficar calado e indiferente a experiência da criança |
7- Expandir e enriquecer a experiência da criança por meio de explicação e comparação, com fantasias e criatividade. |
Ficar calado ou não explicar a experiência, mostrando o que sabe. |
8- Regular e guiar passo a passo as ações e projetos da criança positivamente. Estabelecer limites de forma positiva, dando alternativas de ação. |
Ignorar a criança. Deixar fazer o que quer, sem apoio ou limite. Proibir sem dar opção. |
Por meio destas guias criamos um programa de prevenção de problemas na infância, decorrentes da carência afetiva, bem como, animamos a comunidade a acreditar em seu conhecimento, sua capacidade de cuidar bem das crianças, podendo enfrentar seus problemas de uma forma diferente. As mães que passam por esta sensibilização, se transformam em ajudantes, treinando outras mães da comunidade. Para que isto aconteça, não podemos impor o programa, mas as pessoas devem querer participar de forma livre e espontânea.
A formação parte de um processo de educação continuada, de reaprendizagens constantes em que a capacidade de criar vínculos e de estabelecer uma relação empática se torna o fundamento desta experiência.